sábado, 4 de dezembro de 2010

black power

Vocês já ouviram falar em 3a diáspora negra? Sim, tem nome de coisa de aula de história e, sim, é preciso falar um pouquinho de história para explicar o termo. Quem não tiver muita paciência, pode pular para o 4o parágrafo e eu juro que não fico ofendida.

A 1a diáspora negra é marcada pelo processo de escravidão, na qual os negros foram forçados a irem a outras partes do mundo, como Brasil e Estados Unidos. A 2a é em parte opcional, mas foi infuenciada pela busca de uma melhor qualidade de vida, e se trata das migrações já no século passado para países como França e Reino Unido. De uma meneira geral, ambas as diásporas são mais visíveis em cidades atlânticas, mas grandes cidades do mundo também vêm o crescimento contínuo da população negra: Paris, Londres, Nova York, apenas para citar algumas.

Mas a 3a diáspora negra é virtual. A antropóloga Goli Guerreiro, que cunhou o termo, a define como "um deslocamento de signos - ícones, modos, músicas, filmes, livros - (...) que foi potencializado pela globalização eletrônica e pela web que colocam em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas".

Em suma, o movimento é marcado pela digitalização e compartilhamento de conteúdo criado e desenvolvido dentro da cultura negra. Como eu moro em Salvador, esta é uma experiência mais palpável para mim do que deve ser para muitos de vocês. Ao mesmo tempo, é muito mais difícil identificá-la porque, bem, mesmo bisneta de italianos, alemães e coisa e tal, eu vivo em uma cidade em que a cultura negra não é pontual, e por isso os movimentos culturais já são mais orgânicos para mim.

Anyway, um exemplo interessante deste processo é o grupo Eletrocooperativa, uma ONG que surgiu com o intuito de transformar a realidade de jovens de baixa renda a partir da criação e compartilhamento de músicas pela internet. Com sede no Pelourinho, o projeto já ajudou milhares de jovens e compartilha a experiência da cada um através da rede Itsnoon.

Paralelamente, jovens grafiteiros, como Dimak, compartilham seus trabalhos através da internet, em portais como o Flickr. Arte cheia de significado político e que reflete a situação cultural e de vida da população negra em Salvador. Um street arte que ultrapassa os muros da cidade e se espalha pelo mundo através da web.


Ao mesmo tempo, elementos culturais de outras regiões chegam aqui na cidade. Por exemplo, o MINISTEREOPUBLICO reflete a cultura do soundsystem jamaicana, com influências do reggae, dub, ragga, jungle e dancehall. O grupo surgiu em 2004, e através da ocupação de espaços públicos e apresentações em casas de shows pretende popularizar o soundsystem em Salvador.


Da mesma forma, elementos da cultura negra chegam a outras cidades do mundo. Carnaval em Londres, luta de arena em Dakar, salões de beleza afro em São Paulo, rap norte-americano em Paris. Ícones culturais negros se espalham pelo mundo e diversificam a cultura de grandes cidades. Uma diápora de signos e ícones, que ajudam a combater o racismo e a tranformar em orgânico um movimento que antes era visto como exótico.

Update: Para quem se interessar pelo assunto, saiu uma coluna de Hermano Vianna no jornal O Globo no começo de novembro. Texto aqui.

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