quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

voz da comunidade

Como estudante de jornalismo, alguns dos principais debates os quais acompanhei na faculdade foram a questão da produção de notícias na era digital e a participação de usuários no compartilhamento de informações. Estou saindo sem muitas respostas ainda. Afinal, podemos chamar a produção de notícias por usuários de jornalismo? Até onde podemos confiar no que está na rede? É verdade que existe um verdadeiro "sistema" anti-boatos executado pelos próprios usuários?

Longe de mim querer responder qualquer uma dessas perguntas ou querer entrar em uma análise acadêmica do fenômeno. A verdade é que só o tempo dirá, já que cada dia surge uma nova ferramenta, um novo comportamento, um novo evento global que modificam a forma como o compartilhamento de notícias é feito. No mais, é inegável o poder que um usuário comum possui atualmente e, principalmente, o poder que milhares de usuários têm de gerar buzz sobre um tema que é caro a eles. Vide as eleições no Irã.

Acho que o exemplo mais próximo de nós foi a verdadeira guerra que aconteceu nos últimos dias no Rio de Janeiro. É verdade que o excesso de informações desinforma, mas foi realmente interessante poder acompanhar todo o ocorrido através de atualizações na minha timeline - especialmente com as novas ferramentas do Twitter, em que você não precisa sair dele para ver vídeos e fotos. Mesmo estando longe da tv e do computador, pude me manter atualizada através do celular sem maior esforço.

Dentre as principais fontes de notícia, porém, uma se destacou: o perfil @vozdacomunidade, alimentado por jovens, todos com menos de 17 anos, que residem no Complexo do Alemão. Fundado por Rene Silva, 17, o jornal Voz da Comunidade tem circulação mensal. Por estarem dentro da área de confronto, os meninos puderam atualizar em primeira mão a operação policial dentro da favela e pautar a grande mídia. Além disto, foi criado ainda um perfil que traduz as informações para o inglês.

Rene Silva, 17, fundador e editor do Voz da Comunidade/Foto do Globo

Longe de tentarem serem profissionais, os meninos buscam mostrar o que está acontecendo com as próprias palavras e a partir do próprio ponto de vista. Alguns tweets como "É GUERRA mesmo! Muitos tiros" ou "São muitos disparos, jornalistas de todas emissoras correm por toda rua procurando abrigo! Se cuide!" são bons exemplos disto.

Na semana passada, um dos co-fundadores doTwitter, Biz Stone, falou sobre a importância do microblog na cobertura de eventos mundiais e sugeriu que o site se tornasse efetivamente uma agência de notícias, o Twitter News Service, aberta e compartilhada com outras agências do mundo. @biz foi praticamente desmentido horas depois por Sean Garret, porta-voz do Twitter, mas sua ideia soa apenas como uma formalização de algo que já acontece.

Biz Stone, co-fundador do Google

A verdade é que esta facilidade de compartilhar informações com uma grande quantidade de pessoas acendeu nas pessoas um lado um pouquinho jornalista. Esse desejo de dar notícias, de falar do que está acontecendo é algo que está crescendo. Mais do que compartilhar links, efetivamente produzir conteúdo relevante sobre fatos e eventos que estão ao alcance e que possam interessar. Não vejo, porém, um movimento de suplantação do jornalismo. Pelo contrário, o jornalismo se utiliza das informações geradas pelos usuários da rede social para enriquecer as coberturas.

Há 4 anos, quando entrei na faculdade, ouvia falar deste fenômeno. Agora que estou saindo, já o vejo formado e se transformando continuamente. Fico imaginando o que viveremos daqui a mais 4 anos, com este fácil acesso a celulares com câmera e internet no mundo.

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