segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

street art - denissena

Circulando por Salvador, tenho percebido um aumento considerável na quantidade e na qualidade da arte urbana nas ruas da cidade. Confesso: não domino o tema. Então eu resolvi ir atrás de alguém da área e foi assim que acabei batendo um papo de quase uma hora com o artista visual Denis Sena, 34, responsável por muitos dos trabalhos que estão por aí e que inspirou este post.

Cabula I

Salvador tem pinta de moderna, mas é uma cidade tradicional. Foi difícil acabar com o preconceito em relação ao grafite e conseguir firmá-lo como arte, não vandalismo. Ainda assim, há quem ainda olhe com antipatia para as intervenções urbanas. Denissena, como assina desde 2007, nunca se preocupou com nada disso. Sempre viu seu trabalho como arte e, ao mesmo tempo, nunca buscou oficializar o que fazia. "A essência do grafite é a trasgressão. Ele é poético porque é transgressor", explica. Diz ainda que uma característica muito forte deste tipo de arte é o protesto: "Mesmo nos museus, galerias, estampas, publicidade, o protesto não pode se perder. É a essência que não pode se perder".

Exposição em Luanda

Museus e galerias.
Desde 2007, quando foi convidado para uma exposição em Nova York, o trabalho do artista ganhou reconhecimento. Começou a desenhar ainda pequeno, influenciado pelo pai, mas foi em 96 que começou a descobrir seu esti
lo. Primeiro, seu trabalho tinha fortes influências do Hip Hop (que, há quem diga, é a expressão musical no grafite), mas depois evoluiu e hoje tenta ser o mais diferente, o mais original possível. Tudo o inspira, de Nação Zumbi a Jimi Hendrix, de Keith Haring a Van Gogh. Mais do que outros artistas, o que o inspira são as ruas: pessoas comuns, simples, "um baleiro, naquela contra-mão da vida, pedindo ajuda".

Denis já confeccionou tênis para Adidas, atualmente faz trabalhos para a Skol e a Nextel. Seu trabalho está em toy arts, adesivos, estampas,
trios elétricos, livros de arte. É reconhecido como um dos principais artistas plásticos da cidade (faz também pinturas, esculturas, desenhos, arte digital). Quem conhece Salvador, já deve ter visto algum trabalho seu, sempre assinado com o esqueleto de um peixinho.

Construindo a própria cidade. A evolução
que a street art tem tido em Salvador a levou a um novo patamar. Passou de uma estética pura, de um movimento vazio, de um protesto pontual, para uma questão política, que propõe um retorno às raízes culturais da cidade. O trabalho de Denissena propõe um resgate a manifestações que aos poucos vão se perdendo no tempo, como a marujada, o samba de roda, negro fugido.

Mais do que qualquer coisa, grafitar é uma oportunidade de construir e reconstruir a própria cidade. "A partir do momento em que eu realizo uma intervenção na rua, estou contribuindo com a paisagem urbana. O grafite é uma arte transformadora, que saiu da periferia e hoje está nos grandes centros do mundo.
Passamos por uma nova fase, uma fase maravilhosa, uma evolução. Um manifesto que tornou-se mundial. Que vai de grandes cidades para o interior da Bahia. Ela transcende, vai contaminando".

Denis explica que o maior inimigo dos grafiteiros - e, preciso adicionar, um dos principais inimigos da nossa cidade - é o processo eleitoral. Os políticos pintam por cima dos trabalhos dos artistas, sem nenhum respeito, e quando acaba o pleito, deixam os muros sujos e mal pintados. "Fiz um trabalho coletivo, com Eder Muniz, no dia 4, no Largo 2 de Julho, que foi um pouco nossa vingança".


Largo 2 de Julho

O grafite é um diálogo através dos muros. Mas um diálogo que também pode estar se perdendo. "Hoje eu vejo uma juventude que não se importa, que não conserva o que é bom, acomodada", diz. Por isso, é voluntário de diversos projetos sociais, entre eles a ONG Projeto Cidadão, no Cabula I, seu bairro. Ele também já fez trabalhos com a Eletrocooperativa, citada no post da 3a diáspora negra.

É uma tendência de estruturação urbana, ícone da ideia de que nós, cidadãos, devemos construir nossa própria cidade, com noss
a cara, nosso estilo, e não esperar pelo padrão engessado do poder público. Além disto, é uma união entre o que há de mais moderno e a preservação de raízes culturais, que dão identidade ao grafite em cada cidade. E, como diz Denissena, "é protesto, é transgressão, é poesia".

Ps: no post de ontem teve foto em frente a um trabalho de Eder Muniz, que também está no meu vídeo de seleção. Sentiram o amor, né?

domingo, 5 de dezembro de 2010

over and over

Betty

Caminham paralelas duas tendências na moda completamentes opostas: a extravagância e o minimalismo (que veio com força no verão europeu e, mais uma vez, se firma no inverno). É da primeira, porém, que eu vou falar um pouco. Não apenas porque é mais interessante (né?), mas porque começamos a ver aqui em Salvador, aos poucos, a coragem de abusar nos acessórios, estampas, formatos inusitados.

Não, Lady Gaga não fundou a estética do exagero, mas não se pode negar que foi ela que "liberou" um estilo, digamos, mais drag queen, figurinista que hoje está permitido. Se em Thriller Michael Jackson mostrou para o mundo que a música era também visual, Lady Gaga tem levado isto a um novo patamar, provando que na indústria musical não se sobrevive só de música e ditando uma moda que é seguida por muitos outros artistas (até Cláudia Leitte, gente).

É claro que quando eu falo de uma tendência do exagero eu não estou falando de ninguém vestido de lagosta pela rua, mas é algo que se pode observar
nos sapatos mais altos e pesados, com mais brilhos e fivelas, nos acessórios em demasia, em lantejoulas, laços enormes, estampas e mais estampas, ombreiras, cortes inusitados, maquiagem mais colorida e mesmo nesta modinha de esmaltes super coloridos e diferentes.

Fui às ruas tentar captar um pouco desta estética que, aqui em Salvador, contrasta ainda mais com o calor e a leveza de uma cidade de praia - mas ninguém aguenta mais o estilo básico e padronizado que reina por aqui. Eu gosto do caminho qu
e a moda está seguindo, em que tudo é possível. Lembro em cidades como Barcelona e Londres, por exemplo, em que você podia andar com uma melancia na cabeça e ninguém prestaria atenção. É boa a sensação de que, aos poucos, torna-se permitido vestir o que quiser na capital baiana sem que com isto todos fiquem olhando e comentando. Próximo passo: homens de salto alto. Duvidam?

Fotos no Flickr.

sábado, 4 de dezembro de 2010

black power

Vocês já ouviram falar em 3a diáspora negra? Sim, tem nome de coisa de aula de história e, sim, é preciso falar um pouquinho de história para explicar o termo. Quem não tiver muita paciência, pode pular para o 4o parágrafo e eu juro que não fico ofendida.

A 1a diáspora negra é marcada pelo processo de escravidão, na qual os negros foram forçados a irem a outras partes do mundo, como Brasil e Estados Unidos. A 2a é em parte opcional, mas foi infuenciada pela busca de uma melhor qualidade de vida, e se trata das migrações já no século passado para países como França e Reino Unido. De uma meneira geral, ambas as diásporas são mais visíveis em cidades atlânticas, mas grandes cidades do mundo também vêm o crescimento contínuo da população negra: Paris, Londres, Nova York, apenas para citar algumas.

Mas a 3a diáspora negra é virtual. A antropóloga Goli Guerreiro, que cunhou o termo, a define como "um deslocamento de signos - ícones, modos, músicas, filmes, livros - (...) que foi potencializado pela globalização eletrônica e pela web que colocam em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas".

Em suma, o movimento é marcado pela digitalização e compartilhamento de conteúdo criado e desenvolvido dentro da cultura negra. Como eu moro em Salvador, esta é uma experiência mais palpável para mim do que deve ser para muitos de vocês. Ao mesmo tempo, é muito mais difícil identificá-la porque, bem, mesmo bisneta de italianos, alemães e coisa e tal, eu vivo em uma cidade em que a cultura negra não é pontual, e por isso os movimentos culturais já são mais orgânicos para mim.

Anyway, um exemplo interessante deste processo é o grupo Eletrocooperativa, uma ONG que surgiu com o intuito de transformar a realidade de jovens de baixa renda a partir da criação e compartilhamento de músicas pela internet. Com sede no Pelourinho, o projeto já ajudou milhares de jovens e compartilha a experiência da cada um através da rede Itsnoon.

Paralelamente, jovens grafiteiros, como Dimak, compartilham seus trabalhos através da internet, em portais como o Flickr. Arte cheia de significado político e que reflete a situação cultural e de vida da população negra em Salvador. Um street arte que ultrapassa os muros da cidade e se espalha pelo mundo através da web.


Ao mesmo tempo, elementos culturais de outras regiões chegam aqui na cidade. Por exemplo, o MINISTEREOPUBLICO reflete a cultura do soundsystem jamaicana, com influências do reggae, dub, ragga, jungle e dancehall. O grupo surgiu em 2004, e através da ocupação de espaços públicos e apresentações em casas de shows pretende popularizar o soundsystem em Salvador.


Da mesma forma, elementos da cultura negra chegam a outras cidades do mundo. Carnaval em Londres, luta de arena em Dakar, salões de beleza afro em São Paulo, rap norte-americano em Paris. Ícones culturais negros se espalham pelo mundo e diversificam a cultura de grandes cidades. Uma diápora de signos e ícones, que ajudam a combater o racismo e a tranformar em orgânico um movimento que antes era visto como exótico.

Update: Para quem se interessar pelo assunto, saiu uma coluna de Hermano Vianna no jornal O Globo no começo de novembro. Texto aqui.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

urban station


Urban Station é um dos ambientes mais geniais que eu já vi nos últimos tempos. Um híbrido de café e escritório, com toda a tecnologia e o conforto necessários para se trabalhar, estudar, fazer reuniões em paz. Além de tudo, você paga por hora, e tem direito a consumir o café e os snacks que você quiser, tendo acesso ainda a livros, revistas, internet de 15mb, salas de reuniões equipadas e tudo mais.


Um verdadeiro sonho de consumo no bairro de Palermo Soho, em Buenos Aires. Muito melhor do que trabalhar em casa (ajuda a manter o foco) e do que trabalhar em muito escritório que tem por aí (além de mais bonito, é mais confortável).


Eu quero.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

voz da comunidade

Como estudante de jornalismo, alguns dos principais debates os quais acompanhei na faculdade foram a questão da produção de notícias na era digital e a participação de usuários no compartilhamento de informações. Estou saindo sem muitas respostas ainda. Afinal, podemos chamar a produção de notícias por usuários de jornalismo? Até onde podemos confiar no que está na rede? É verdade que existe um verdadeiro "sistema" anti-boatos executado pelos próprios usuários?

Longe de mim querer responder qualquer uma dessas perguntas ou querer entrar em uma análise acadêmica do fenômeno. A verdade é que só o tempo dirá, já que cada dia surge uma nova ferramenta, um novo comportamento, um novo evento global que modificam a forma como o compartilhamento de notícias é feito. No mais, é inegável o poder que um usuário comum possui atualmente e, principalmente, o poder que milhares de usuários têm de gerar buzz sobre um tema que é caro a eles. Vide as eleições no Irã.

Acho que o exemplo mais próximo de nós foi a verdadeira guerra que aconteceu nos últimos dias no Rio de Janeiro. É verdade que o excesso de informações desinforma, mas foi realmente interessante poder acompanhar todo o ocorrido através de atualizações na minha timeline - especialmente com as novas ferramentas do Twitter, em que você não precisa sair dele para ver vídeos e fotos. Mesmo estando longe da tv e do computador, pude me manter atualizada através do celular sem maior esforço.

Dentre as principais fontes de notícia, porém, uma se destacou: o perfil @vozdacomunidade, alimentado por jovens, todos com menos de 17 anos, que residem no Complexo do Alemão. Fundado por Rene Silva, 17, o jornal Voz da Comunidade tem circulação mensal. Por estarem dentro da área de confronto, os meninos puderam atualizar em primeira mão a operação policial dentro da favela e pautar a grande mídia. Além disto, foi criado ainda um perfil que traduz as informações para o inglês.

Rene Silva, 17, fundador e editor do Voz da Comunidade/Foto do Globo

Longe de tentarem serem profissionais, os meninos buscam mostrar o que está acontecendo com as próprias palavras e a partir do próprio ponto de vista. Alguns tweets como "É GUERRA mesmo! Muitos tiros" ou "São muitos disparos, jornalistas de todas emissoras correm por toda rua procurando abrigo! Se cuide!" são bons exemplos disto.

Na semana passada, um dos co-fundadores doTwitter, Biz Stone, falou sobre a importância do microblog na cobertura de eventos mundiais e sugeriu que o site se tornasse efetivamente uma agência de notícias, o Twitter News Service, aberta e compartilhada com outras agências do mundo. @biz foi praticamente desmentido horas depois por Sean Garret, porta-voz do Twitter, mas sua ideia soa apenas como uma formalização de algo que já acontece.

Biz Stone, co-fundador do Google

A verdade é que esta facilidade de compartilhar informações com uma grande quantidade de pessoas acendeu nas pessoas um lado um pouquinho jornalista. Esse desejo de dar notícias, de falar do que está acontecendo é algo que está crescendo. Mais do que compartilhar links, efetivamente produzir conteúdo relevante sobre fatos e eventos que estão ao alcance e que possam interessar. Não vejo, porém, um movimento de suplantação do jornalismo. Pelo contrário, o jornalismo se utiliza das informações geradas pelos usuários da rede social para enriquecer as coberturas.

Há 4 anos, quando entrei na faculdade, ouvia falar deste fenômeno. Agora que estou saindo, já o vejo formado e se transformando continuamente. Fico imaginando o que viveremos daqui a mais 4 anos, com este fácil acesso a celulares com câmera e internet no mundo.

carrotmob

"Carrotmobs are cooler than boycotts" escreveu a Time para definir a organização. A ideia é simples: ao invés de se unir para boicotar um estabelecimento, situação em que todos poderiam sair perdendo, um grupo de pessoas se une para consumir em peso em um estabelecimento que fez mudanças socialmente responsáveis. Um boicote ao contrário.

O nome vem da expressão "carrot and stick" que se refere à combinação de prêmio e punição para induzir um comportamento. Organizado por um cara chamado Brent Schulkin, o grupo surgiu em março de 2008, em São Francisco. A ideia é genial porque é muito mais fácil fazer com que mais pessoas consumam em uma loja do que fazer com que elas parem de consumir. Além disto, as pessoas estão, de uma maneira geral, mais dispostas a participarem de um Carrotmob do que de um boicote.


Aqui no Brasil, o único grupo é em Campinas. Seu organizador, o engenheiro Edson Pontes, diz que nada foi feito por enquanto porque estão pensando em um formato adequado para o Brasil. "O brasileiro geralmente é muito entusiasmado com novas ideias, e apoia rapidamente, sem pensar muito a respeito. Mas quando você pede envolvimento, a coisa muda de figura". Já existe uma consciência ambiental no Brasil, mas ainda não existe um comprometimento real com a causa.


Edson explica que é muito fácil participar do movimento, porque basta consumir coisas que você já iria consumir, "mas em lugares que estão comprometidos com a causa da sustentabilidade". Assim, os participantes não perdem nada, e a comunidade ganha um estabelecimento comprometido com uma causa social.

O engenheiro descobriu o movimento através da internet e inclusive conversou com o fundador do Carrotmob através dela. Através da rede o projeto tem se espalhado pelo mundo e assim está chegando em cidades em outros continentes. Além do de Campinas, um grupo acabou de se formar em Buenos Aires.

Sem revolução ou politicagem, o grupo é uma ideia simples de como fazer pequenas mudanças que podem beneficiar um bairro, cidade e o planeta. Reflete também a ideia de consumo responsável, na qual nós, mesmo sem fazer parte de nenhuma mobilização, começamos aos poucos a consumir apenas produtos e em estabelecimentos que de alguma forma procurem fazer alguma diferença.

Quem estiver interessado no projeto, pode falar com o Edson através do e-mail edson_r_pontes@yahoo.com.br e dar uma olhadinha no blog.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

dia mundial de combate à aids


Como todos já devem ter percebido pelas redes sociais e portais de notícias, hoje, 1o de dezembro, é o Dia Mundial de Combate à Aids. O dia é destinado à divulgação de temas como prevenção e preconceito aos portadores de HIV desde 1987, e este ano tem a seu lado, como nunca, o apoio das redes sociais para mobilizar e gerar interesse sobre o assunto.

Um dos projetos mais interessantes é o The Digital Life Sacrifice. Artistas como Lady Gaga, Kim Kardashian, Justin Timberlake, entre outros, uniram-se à causa da cantora Alicia Keys e de sua instituição, Keep a Child Alive. Todos os participantes cometeram twittercídio e dizem que só voltarão à rede quando forem arrecadados US$1 milhão. Em seus Twitters, mensagens informando sobre a campanha e ensinando como doar para a causa. No site Buylife, foram postados ainda testamentos em vídeos das celebridades.

É interessante observar o poder de mobilização da internet para causas sociais, especialmente quando tem alguma celebridade como porta-voz. A única preocupação é acompanhar se o excesso de informação online não pode saturar os usuários e fazer com que projetos importantes percam a força.

Aproveitando o assunto, quem aí já conseguiu a badge (RED) no Fourquare?

google editions


Começa a circular na internet a notícia de que a Google vai lançar o seu portal de venda de e-books, o Google Editions, ainda este ano. Inicialmente, venderá apenas para os Estados Unidos, mas em 2011 deverá se tornar global. O lançamento surge para competir diretamente com o Amazon, que atualmente possui cerca de 65% do mercado.

Segundo o The Wall Street Journal, o interessante do projeto é que deverá dar bastante destaque aos revendedores independentes. Além disto, o Google trará ainda a opção de armazenar todo o conteúdo online adquirido na nuvem, e não em um computador, kindle ou ipad. Assim, o usuário poderá acessar os e-books de qualquer lugar - basta estar conenctado a sua conta. A vantagem é que os livros se tornam disponíveis para qualquer usuário de computador, não apenas para os que possuem um tablet.

O mercado de e-books está em constante crescimento. Em 2010, as vendas do setor triplicaram em relação a 2009 (de US$301 para US$966 milhões). O Google conta com sua extensa rede de anúncios e pode transformar qualquer lugar em que se fala de um livro em um lugar onde se pode efetivamente comprar um livro.

Os e-books são ícones de (ao menos) duas tendências já confirmadas. A primeira é a digitalização de absolutamente tudo. A cultura digital que não mata mídias, mas cada vez mais acaba com determinadas plataformas midiáticas, e colabora na convergência das informações. E a consciência ecológica, que faz com que as pessoas estejam cada dia mais conscientes da importância de não desperdiçar papel.

(Falando em desperdício, já leram sobre o formato .WWF?)

Agora só resta esperar que os tablets e computadores de uma forma geral se tornam mais confortáveis para a leitura. Porque uma coisa é ler um post em um blog, uma matéria, até um artigo. Mas ler um livro inteiro continua um pouquinho difícil, não?

Update: Introducing Google eBooks.

fast fashion

Fast fashion se refere à rapidez de produção de peças da última coleção a preços acessíveis aos consumidores, de moda a manter as lojas sempre cheias de tendências, que se renovam constantemente. Assim, não precisamos esperar meses para conseguir colocar as mãos nas roupas desfiladas nas passarelas, que se espalham rapidamente pela internet e deixam todas as fashionistas com água na boca.

Acho que a coleção mais comentada (e esperada) do ano foi a que a Lanvin fez para a H&M. O desfile divertido e interessante mostra o processo de chegada da high fashion a araras mais em conta. Infelizmente, não temos H&M por aqui ainda (por enquanto) e o site da empresa também não entrega no Brasil. De qualquer forma, vale dar uma olhada no show que prepararam para o lançamento da coleção.


Aqui no Brasil, o fenômeno tem se intensificado no último ano. A C&A, que sempre foi imbatível em trazer grandes marcas para o fast fashion, lançou agora no último mês a C&A Collection Maria Bonita Extra, com preços que vão de R$35 a R$159. Mesmo com a qualidade deixando um pouco a desejar, a coleção é muito mais em conta que a média de R$500 que se paga na grife.


Tanto é que eu não resisti e comprei esse cintinho por exatos R$35. Fofo, né?


A Riachuelo também assinou uma parceria em novembro, desta vez com Oskar Metsavaht (sim, da Osklen) para uma coleção que, pelo menos aqui em Salvador, desapareceu das prateleiras ainda nos primeiros dias. Inspirada no Rio de Janeiro, com cara de verão e roupas e acessórios mais simples e usáveis do que os da Osklen, a coleção reproduz o espírito da marca com preços que vão de R$29 a R$259.


É a democratização da moda, que já se mostrava na pluralidade de estilos possíveis, e agora se reflete no preço. É verdade que ninguém nunca precisou pagar caro para estar bem vestido, mas o que vemos cada vez mais é a opção de usarmos a peça que quisermos, o estilista que quisermos e pelo preço que podemos pagar, sem aquela sensação de usar produto copiado ou pirateado.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

jil is lucky e carolina chocolate drops

No começo do século XXI, acompanhamos um movimento de resgate da sonoridade do final da década de 70 e 80, com guitarras em destaque e batidas bem marcadas. É dessa época que surgem bandas como The Strokes e Interpol.


Talking Heads - Psycho Killer

Mas indie que é indie tem que se diferenciar, e agora, no final da primeira década do século, é possível começar a perceber um caminho oposto. A busca atual é por um som mais de raiz, com misturas mais acentuadas e nada daquela sonoridade elétrica que machuca um pouco o ouvido. Beirut é uma das bandas mais conhecidas dessa tendência, com alguns (já) clássicos como Elephant Gun.

Outras bandas menos conhecidas também merecem destaque. O som gypsy punk do Gogol Bordello (de Nova York, mas com bigode esloveno) e mesmo a forte regionalidade de Cordel do Fogo Encantado, para citar alguém do Brasil, mostram esse retorno às raízes, à mistura e à vontade de fazer diferente.

E fuçando por aí encontrei duas bandas muito interessantes que seguem de alguma forma essa tendência. A primeira é Carolina Chocolate Drops, que já saiu até na Rolling Stone, mas que não é muito conhecida por aqui. O grupo é da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e faz um resgate da música de corda típica do sul do país. Eles já estão no quinto álbum, o primeiro deles lançado em 2006. A banda faz também releituras de algumas músicas conhecidas, como Hit 'Em Up Style, da Blu Cantrell.

Ainda menos conhecido, Jil is Lucky, com seus óculos de coração azul, é quase um fantasma na internet. Achei poucas informações sobre ele. Vindo da França, atualmente residindo em Paris, o cantor já tem até lojinha. É possível perceber um estilo mais bucólico, in natura em suas músicas. Identificar menos guitarras e menos batidas bem marcadas.

Segundo a Roy Music, sua gravadora, Jil passou os últimos anos viajando o mundo. É esse espírito que ele tenta reproduzir em suas músicas, inclusive em The Wanderer, que, segundo o cantor, terminou de compor enquanto andava pela rua. Seu som é feito de pop, kletzer, mariachi. Acho que tem tudo a ver com o projeto 99novas, não?


Jil is lucky - The Wanderer

mobilidade urbana I - schweeb


No passado, quando olhávamos para o futuro, viámos carros voadores, casas no espaço e colans prateados. O futuro chegou e, apesar de termos inventado coisas que jamais poderíamos imaginar, nossa locomoção urbana permanece, de uma maneira geral, bem no chão (ou embaixo dele).

Mas eis que surge o schweeb. O nomezinho esquisito não faz juz à ideia simples e interessante que está por trás dele. Locomoção rápida aliada a baixo esforço e ainda produção de energia. E tudo isto financiado com 1 milhão de dólares pelo Google.

A notícia não é nova, saiu no final de setembro, mas é uma boa solução de mobilidade urbana para o futuro. O schweeb foi um dos selecionados pelo Google em um concurso que começou há dois anos e como tinha como proposta encontrar ideias que pudessem melhorar a vida das pessoas. Concorreu com mais de 150 mil projetos, de 170 países. Os outros vencedores do Google 10^100 podem ser vistos aqui (vale a pena).

O schweeb é um trilho suspenso no qual ficam acoplados pequenas cápsulas individuais e transparente movidas pela força motora do próprio passageiro, pedalando. Como há baixo atrito, a pessoa consegue chegar a 40km/h com facilidade, sem ficar cansada.


O protótipo encontra-se na Nova Zelândia, e serve como um "brinquedo" de aventura, quase uma montanha-russa, no qual competidores podem apostar corrida. Mas espera-se que em breve um modelo seja testado em alguma grande cidade do mundo, que ainda não foi decidida.

Pensar que schweebs estão sendo lançados por aí e que, aqui em Salvador, a grande ideia da década foi criar um corredor de ônibus.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

toy art gastronômico


Eu sei que deve ser óbvio falar de cupcakes como tendências. Uma modinha que acabou de se instalar de vez em São Paulo e que começa a dar os primeiros sinais de sua chegada aqui em Salvador. Mas queria falar de dois pontos sobre esses pequenos toy arts gastronômicos.

O primeiro: a definitiva individualização da comida. Nós - bom, pelo menos eu - sempre associamos doces a uma festa de gula, dedos melados e boca cheia. Os cupcakes vêm na contra-mão desta visão, sendo vendido em verdadeiras boutiques de luxo, com cores e formatos únicos e tons pastéis de uma elegância sem fim. O Marcelo Coelho escreveu na Folha sobre uma "guloseima do conto de fadas" e que "o cupcake introduz, nessas muralhas de resistência afetiva, o espírito do cada um por si". É a individualização da comida com luxo. É a versão pocket do bolo, com grife.


Mas a segunda coisa, e a que considero mais interessante sobre esses bolinhos, é mais uma questão de estética gastronômica. Ao vivo, podemos cheirar e saborear os pratos. Na televisão, mesmo privados destes sentidos, podemos acompanhar o preparo e ficar com água na boca desde a manteiga derretendo. Os cupcakes são comidinhas da era da internet, de imagens estáticas, que antes de qualquer coisa tem que ser belas.



Se eu pudesse apontar uma causa para a guloseima ter chegado aqui no Brasil, com tamanho alvoroço, com certeza apontaria a rede. Há muito já sabíamos da existência dos bolinhos através de filmes e seriados. Mas foi na internet que fomos bombardeados nos últimos anos com fotos, receitas e referências diversas, que vão de blusas a colares, do mimo.

E a estética do cupcake reverbera e alimenta-se de algo que eu falei no post anterior, sobre a busca de "climas". Cupcakes são vintage, românticos, adoravelmente femininos.


É o grande case de como nosso consumo online pode influenciar nossos hábitos de compra, comportamento e, sim, alimentação. E o mais bonitinho também :)

living in

Vocês já ouviram falar em escapismo? É um fenômeno típico do romantismo em que a pessoa foge de realidades desagradáveis através de alucinações e devaneios.

E de cyber escapismo? Longe de soar como doença mental, o cyber escapismo é um fenômeno cada vez mais comum da nossa realidade digital e do desejo que temos de vivenciar a estética e o clima de determinados cenários ficcionais: filmes, livros, músicas, ícones da cultura pop como um todo. E não estou falando aqui de produtos licenciados, mas de uma produção que vem de baixo, dos próprios consumidores.

Essa construção da identidade através de referências pop e a fuga da realidade para a internet não são novas, o que é novo é a intesidade com a qual o processo vem sendo feito e o modo como ícones estão sendo usados para construir uma verdadeira realidade alternativa.

A verdade é que nosso consumo não se limita mais a um único produto. Longe de entrar na seara da transmedia storytelling, a ideia é evidenciar o prolongamento que nós mesmos damos a certas experiências. Como consequência desse fenômeno, blogs e sites passam a nos dar mil referências de como viver determinada realidade alternativa, dentro e fora do computador.


Acho que o melhor exemplo dos últimos tempos é a adaptação de Tim Burton para Alice no País das Maravilhas. Todo mundo queria o tom, a cor, o objeto, o clima do filme em suas vidas. Tanto é que dezenas - ouso dizer centenas - de campanhas publicitárias tiraram proveito disso. Dessa forma, o fenômeno se perdeu um pouco, virou marketing.


Mas Alice não criou fãs tão fiéis como filmes menos conhecidos. Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, de 2001, deixa suas marcas muito mais visíveis. A busca constante por experimentar a realidade do filme lota as páginas do We Heart It com frames e fotos tiradas pelos usuários (usuárias, né?) que de alguma forma tentam copiar o estilo de Amélie. É a necessidade de viver uma realidade romântica e francesa, em qualquer parte do mundo.


O blog Design*Sponge já faz algum tempo uma série chamada living in em que ele "ensina" como viver determinadas realidades. O blog mostra que objetos e roupas se deve ter para reproduzir determinados universos, e inclusive dá os links de onde encontrá-los. O post que eles fizeram sobre Amélie, por exemplo, foi pedido por diversos leitores, repeatedly.


O fenômeno não se restringe a ícones da cultura pop atual. Mesmo outros países e épocas podem servir de escape para nossa imaginação.. Ou vai dizer que o climinha vintage que reina (mais) na internet (do que fora dela) não é um desejo de revisitar um tempo mais bucólico? It girls mundo à fora fazem parte do processo através de seus blogs. Consigo pensar em duas de cabeça, que apesar de estarem mais urbanas nos últimos tempos, vez ou outra postam um vestidinho esvoaçante e uma coroa de flores na cabeça: Alix e Louise.


A verdade é que o cyber escapismo pode ser utilizado comercialmente, mas não é uma tendência comercial. Tampouco se configura como um comportamento unicamente de fãs, que querem continuar imersos no mundo que rodeio seus objetos de fascínio. É, na verdade, uma prática cada vez mais comum, minha, sua, de qualquer pessoa, de adicionar às nossas vidas, mesmo que virtualmente, pequenos detalhes de realidades que gostaríamos de vivenciar.

Acho seguro, inclusive, afirmar que o cyber escapismo apropriou-se de práticas offline para reconstruí-las no meio digital, gerando repercussão, novamente, no offline. Um nó que mostra bem como está cada vez mais difícil separar as duas coisas.

domingo, 28 de novembro de 2010

ponto de partida

Antes de qualquer coisa, acho que tenho que me apresentar melhor.

Que o meu nome é Lara, que tenho 21 anos e que sou de Salvador (como a DM9, olha que bonito) vocês já sabem. Mas acho importante falar também sobre o que eu já fiz e como eu cheguei até aqui.

Aos 10, fui questionada por minha mãe sobre o que eu queria fazer quando crescesse. Minha irmã respondeu, sem pensar: "médica". Eu travei. Parei para pensar em tudo que eu gostava na vida: fotos, barcos, golfinhos, viajar, escrever, somei tudo e respondi: "quero viajar o mundo em um barco fotografando golfinhos e escrevendo para a National Geographic".

Aos 10, triste, porque não ganhei um golfinho de aniversário

Acho que depois disso, comecei a inconscientemente trilhar o caminho que me levaria a tamanha aventura. Passei a ler tudo o que caía na minha mão, a escrever sobre qualquer coisa que eu achava minimamente interessante (tenho blog desde os 13), a querer ir para qualquer parte do mundo que alguém quisesse me levar. Vamos para Disney? Vamos. E pra Feira de Santana? Também.

Aos 17, entrei no curso de Comunicação - Jornalismo da UFBa, no qual estou me formando com um trabalho de monografia sobre Transmedia Storytelling. Aprendi na faculdade a apurar meu olhar para o mundo, a sempre buscar os múltiplos lados de uma história, contexto, ideia.


Aos 17, feliz da vida com a cara cheia de farinha de trigo

No terceiro semestre, comecei a estagiar no Grupo Metrópole. Foi onde aprendi a ser pau para toda obra. É preciso especializar-se, sim, mas é preciso saber fazer tudo também. Editei, produzi e escrevi para a Revista da Metrópole, assinei o caderno de cultura do Jornal, atualizei o portal, escrevi roteiro de programas de rádio, até ajudei a montar stand no Maxi Mídia Sat. Mas aprendi também que não gostava muito dessa coisa de jornalismo de redação. Eu me sentia claustrofóbica, presa.

Saí da Metrópole com uma passagem na mão: estava na hora de sair um pouquinho de Salvador. Já havia me formado e pós-graduado no inglês aos 15, e vinha estudando espanhol há dois anos. Viajei para Barcelona, onde me formei no nível C2 do espanhol e aprendi um tiquinho de catalão - atualmente estou no segundo ano de francês. Depois, com o dinheiro que eu tinha juntado, fiz um mochilão de um mês pela Europa: Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Holanda, Alemanha, República Tcheca, Itália e Mônaco. Nem as noites dormidas em trem, nem a comida barata foram tão difíceis quanto voltar para casa. Foi quando eu descobri que eu não tinha muitas raízes.

Aos 19, alguns quilinhos a mais de tortillas em Barcelona

Voltei, exausta e feliz, para colocar minha vida em perspectiva. Em abril, fiz um freela para a Box1824, recepcionando duas estudiosas norte-americanas que queriam saber tudo, tudinho, sobre hábitos de comportamento e consumo da população baiana. Era parte de um projeto global para o lançamento de uma nova marca de roupa em países em desenvolvimento. Na época, eu não sabia bem que nome dar àquela profissão, mas sabia bem que era aquilo que queria fazer.

Em novembro descobri: planejamento. Não era nenhum fotografar golfinhos, mas há tempo já tinha me tornado mais urbana e mais interessada em comportamentos, hum, mais humanos. Passei em uma seleção na Propeg, onde estagio há um ano, e me tornei planner. E eu amo ser planner. É um trabalho que preenche meu vício por novidades, que exercita meu racicínio e que cotidianamente me inspira. Planners são conhecidos pelo conhecimento inútil e pelo Power Point. Conhecimento inútil nada, o que aprendi no trabalho melhorou inclusive minha vida - sou mais verde, mais cidadã, mais responsável no trânsito. Do Power Point não me defendo.

Na Propeg - a maior agência do Norte/Nordeste e umas das 20 maiores do país - tenho a oportunidade de trabalhar com grandes contas, como os Ministérios da Saúde e das Cidades, a Insinuante, o grupo M. Dias Branco e a Odebrecht, entre outras. Mais do que isso: posso trabalhar fazendo o que mais gosto. Fuçando, esmiuçando, descobrindo, redescobrindo, repensando tudo que é novo, que é diferente, que é inspirador.

Foto indie com uma de minhas quatro irmãs em São Paulo

E foi nesse momento da minha vida que o projeto 99novas chegou. É o tipo de trabalho que une tudo o que eu gosto - escrever, viajar, fuçar, buscar tendências, novos comportamentos, mudanças, e compartilhar tudo isso - e, sem muita modéstia, sei fazer.

Nos próximos dias, vou dar início a uma série de posts sobre tendências, comportamentos, novidades que, de alguma forma, se conectam com a minha cidade. Não serão matérias sobre Salvador, mas sobre comportamentos globais que repercutem por aqui.

A barrinha superior do blog vai mudar todos os dias com fotos minhas de algumas partes do mundo. Quem quiser descobrir um pouquinho mais sobre mim, ajudo:

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confissões de uma otária

Até amanhã!