segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

street art - denissena

Circulando por Salvador, tenho percebido um aumento considerável na quantidade e na qualidade da arte urbana nas ruas da cidade. Confesso: não domino o tema. Então eu resolvi ir atrás de alguém da área e foi assim que acabei batendo um papo de quase uma hora com o artista visual Denis Sena, 34, responsável por muitos dos trabalhos que estão por aí e que inspirou este post.

Cabula I

Salvador tem pinta de moderna, mas é uma cidade tradicional. Foi difícil acabar com o preconceito em relação ao grafite e conseguir firmá-lo como arte, não vandalismo. Ainda assim, há quem ainda olhe com antipatia para as intervenções urbanas. Denissena, como assina desde 2007, nunca se preocupou com nada disso. Sempre viu seu trabalho como arte e, ao mesmo tempo, nunca buscou oficializar o que fazia. "A essência do grafite é a trasgressão. Ele é poético porque é transgressor", explica. Diz ainda que uma característica muito forte deste tipo de arte é o protesto: "Mesmo nos museus, galerias, estampas, publicidade, o protesto não pode se perder. É a essência que não pode se perder".

Exposição em Luanda

Museus e galerias.
Desde 2007, quando foi convidado para uma exposição em Nova York, o trabalho do artista ganhou reconhecimento. Começou a desenhar ainda pequeno, influenciado pelo pai, mas foi em 96 que começou a descobrir seu esti
lo. Primeiro, seu trabalho tinha fortes influências do Hip Hop (que, há quem diga, é a expressão musical no grafite), mas depois evoluiu e hoje tenta ser o mais diferente, o mais original possível. Tudo o inspira, de Nação Zumbi a Jimi Hendrix, de Keith Haring a Van Gogh. Mais do que outros artistas, o que o inspira são as ruas: pessoas comuns, simples, "um baleiro, naquela contra-mão da vida, pedindo ajuda".

Denis já confeccionou tênis para Adidas, atualmente faz trabalhos para a Skol e a Nextel. Seu trabalho está em toy arts, adesivos, estampas,
trios elétricos, livros de arte. É reconhecido como um dos principais artistas plásticos da cidade (faz também pinturas, esculturas, desenhos, arte digital). Quem conhece Salvador, já deve ter visto algum trabalho seu, sempre assinado com o esqueleto de um peixinho.

Construindo a própria cidade. A evolução
que a street art tem tido em Salvador a levou a um novo patamar. Passou de uma estética pura, de um movimento vazio, de um protesto pontual, para uma questão política, que propõe um retorno às raízes culturais da cidade. O trabalho de Denissena propõe um resgate a manifestações que aos poucos vão se perdendo no tempo, como a marujada, o samba de roda, negro fugido.

Mais do que qualquer coisa, grafitar é uma oportunidade de construir e reconstruir a própria cidade. "A partir do momento em que eu realizo uma intervenção na rua, estou contribuindo com a paisagem urbana. O grafite é uma arte transformadora, que saiu da periferia e hoje está nos grandes centros do mundo.
Passamos por uma nova fase, uma fase maravilhosa, uma evolução. Um manifesto que tornou-se mundial. Que vai de grandes cidades para o interior da Bahia. Ela transcende, vai contaminando".

Denis explica que o maior inimigo dos grafiteiros - e, preciso adicionar, um dos principais inimigos da nossa cidade - é o processo eleitoral. Os políticos pintam por cima dos trabalhos dos artistas, sem nenhum respeito, e quando acaba o pleito, deixam os muros sujos e mal pintados. "Fiz um trabalho coletivo, com Eder Muniz, no dia 4, no Largo 2 de Julho, que foi um pouco nossa vingança".


Largo 2 de Julho

O grafite é um diálogo através dos muros. Mas um diálogo que também pode estar se perdendo. "Hoje eu vejo uma juventude que não se importa, que não conserva o que é bom, acomodada", diz. Por isso, é voluntário de diversos projetos sociais, entre eles a ONG Projeto Cidadão, no Cabula I, seu bairro. Ele também já fez trabalhos com a Eletrocooperativa, citada no post da 3a diáspora negra.

É uma tendência de estruturação urbana, ícone da ideia de que nós, cidadãos, devemos construir nossa própria cidade, com noss
a cara, nosso estilo, e não esperar pelo padrão engessado do poder público. Além disto, é uma união entre o que há de mais moderno e a preservação de raízes culturais, que dão identidade ao grafite em cada cidade. E, como diz Denissena, "é protesto, é transgressão, é poesia".

Ps: no post de ontem teve foto em frente a um trabalho de Eder Muniz, que também está no meu vídeo de seleção. Sentiram o amor, né?

domingo, 5 de dezembro de 2010

over and over

Betty

Caminham paralelas duas tendências na moda completamentes opostas: a extravagância e o minimalismo (que veio com força no verão europeu e, mais uma vez, se firma no inverno). É da primeira, porém, que eu vou falar um pouco. Não apenas porque é mais interessante (né?), mas porque começamos a ver aqui em Salvador, aos poucos, a coragem de abusar nos acessórios, estampas, formatos inusitados.

Não, Lady Gaga não fundou a estética do exagero, mas não se pode negar que foi ela que "liberou" um estilo, digamos, mais drag queen, figurinista que hoje está permitido. Se em Thriller Michael Jackson mostrou para o mundo que a música era também visual, Lady Gaga tem levado isto a um novo patamar, provando que na indústria musical não se sobrevive só de música e ditando uma moda que é seguida por muitos outros artistas (até Cláudia Leitte, gente).

É claro que quando eu falo de uma tendência do exagero eu não estou falando de ninguém vestido de lagosta pela rua, mas é algo que se pode observar
nos sapatos mais altos e pesados, com mais brilhos e fivelas, nos acessórios em demasia, em lantejoulas, laços enormes, estampas e mais estampas, ombreiras, cortes inusitados, maquiagem mais colorida e mesmo nesta modinha de esmaltes super coloridos e diferentes.

Fui às ruas tentar captar um pouco desta estética que, aqui em Salvador, contrasta ainda mais com o calor e a leveza de uma cidade de praia - mas ninguém aguenta mais o estilo básico e padronizado que reina por aqui. Eu gosto do caminho qu
e a moda está seguindo, em que tudo é possível. Lembro em cidades como Barcelona e Londres, por exemplo, em que você podia andar com uma melancia na cabeça e ninguém prestaria atenção. É boa a sensação de que, aos poucos, torna-se permitido vestir o que quiser na capital baiana sem que com isto todos fiquem olhando e comentando. Próximo passo: homens de salto alto. Duvidam?

Fotos no Flickr.

sábado, 4 de dezembro de 2010

black power

Vocês já ouviram falar em 3a diáspora negra? Sim, tem nome de coisa de aula de história e, sim, é preciso falar um pouquinho de história para explicar o termo. Quem não tiver muita paciência, pode pular para o 4o parágrafo e eu juro que não fico ofendida.

A 1a diáspora negra é marcada pelo processo de escravidão, na qual os negros foram forçados a irem a outras partes do mundo, como Brasil e Estados Unidos. A 2a é em parte opcional, mas foi infuenciada pela busca de uma melhor qualidade de vida, e se trata das migrações já no século passado para países como França e Reino Unido. De uma meneira geral, ambas as diásporas são mais visíveis em cidades atlânticas, mas grandes cidades do mundo também vêm o crescimento contínuo da população negra: Paris, Londres, Nova York, apenas para citar algumas.

Mas a 3a diáspora negra é virtual. A antropóloga Goli Guerreiro, que cunhou o termo, a define como "um deslocamento de signos - ícones, modos, músicas, filmes, livros - (...) que foi potencializado pela globalização eletrônica e pela web que colocam em conexão digital os repertórios culturais de cidades atlânticas".

Em suma, o movimento é marcado pela digitalização e compartilhamento de conteúdo criado e desenvolvido dentro da cultura negra. Como eu moro em Salvador, esta é uma experiência mais palpável para mim do que deve ser para muitos de vocês. Ao mesmo tempo, é muito mais difícil identificá-la porque, bem, mesmo bisneta de italianos, alemães e coisa e tal, eu vivo em uma cidade em que a cultura negra não é pontual, e por isso os movimentos culturais já são mais orgânicos para mim.

Anyway, um exemplo interessante deste processo é o grupo Eletrocooperativa, uma ONG que surgiu com o intuito de transformar a realidade de jovens de baixa renda a partir da criação e compartilhamento de músicas pela internet. Com sede no Pelourinho, o projeto já ajudou milhares de jovens e compartilha a experiência da cada um através da rede Itsnoon.

Paralelamente, jovens grafiteiros, como Dimak, compartilham seus trabalhos através da internet, em portais como o Flickr. Arte cheia de significado político e que reflete a situação cultural e de vida da população negra em Salvador. Um street arte que ultrapassa os muros da cidade e se espalha pelo mundo através da web.


Ao mesmo tempo, elementos culturais de outras regiões chegam aqui na cidade. Por exemplo, o MINISTEREOPUBLICO reflete a cultura do soundsystem jamaicana, com influências do reggae, dub, ragga, jungle e dancehall. O grupo surgiu em 2004, e através da ocupação de espaços públicos e apresentações em casas de shows pretende popularizar o soundsystem em Salvador.


Da mesma forma, elementos da cultura negra chegam a outras cidades do mundo. Carnaval em Londres, luta de arena em Dakar, salões de beleza afro em São Paulo, rap norte-americano em Paris. Ícones culturais negros se espalham pelo mundo e diversificam a cultura de grandes cidades. Uma diápora de signos e ícones, que ajudam a combater o racismo e a tranformar em orgânico um movimento que antes era visto como exótico.

Update: Para quem se interessar pelo assunto, saiu uma coluna de Hermano Vianna no jornal O Globo no começo de novembro. Texto aqui.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

urban station


Urban Station é um dos ambientes mais geniais que eu já vi nos últimos tempos. Um híbrido de café e escritório, com toda a tecnologia e o conforto necessários para se trabalhar, estudar, fazer reuniões em paz. Além de tudo, você paga por hora, e tem direito a consumir o café e os snacks que você quiser, tendo acesso ainda a livros, revistas, internet de 15mb, salas de reuniões equipadas e tudo mais.


Um verdadeiro sonho de consumo no bairro de Palermo Soho, em Buenos Aires. Muito melhor do que trabalhar em casa (ajuda a manter o foco) e do que trabalhar em muito escritório que tem por aí (além de mais bonito, é mais confortável).


Eu quero.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

voz da comunidade

Como estudante de jornalismo, alguns dos principais debates os quais acompanhei na faculdade foram a questão da produção de notícias na era digital e a participação de usuários no compartilhamento de informações. Estou saindo sem muitas respostas ainda. Afinal, podemos chamar a produção de notícias por usuários de jornalismo? Até onde podemos confiar no que está na rede? É verdade que existe um verdadeiro "sistema" anti-boatos executado pelos próprios usuários?

Longe de mim querer responder qualquer uma dessas perguntas ou querer entrar em uma análise acadêmica do fenômeno. A verdade é que só o tempo dirá, já que cada dia surge uma nova ferramenta, um novo comportamento, um novo evento global que modificam a forma como o compartilhamento de notícias é feito. No mais, é inegável o poder que um usuário comum possui atualmente e, principalmente, o poder que milhares de usuários têm de gerar buzz sobre um tema que é caro a eles. Vide as eleições no Irã.

Acho que o exemplo mais próximo de nós foi a verdadeira guerra que aconteceu nos últimos dias no Rio de Janeiro. É verdade que o excesso de informações desinforma, mas foi realmente interessante poder acompanhar todo o ocorrido através de atualizações na minha timeline - especialmente com as novas ferramentas do Twitter, em que você não precisa sair dele para ver vídeos e fotos. Mesmo estando longe da tv e do computador, pude me manter atualizada através do celular sem maior esforço.

Dentre as principais fontes de notícia, porém, uma se destacou: o perfil @vozdacomunidade, alimentado por jovens, todos com menos de 17 anos, que residem no Complexo do Alemão. Fundado por Rene Silva, 17, o jornal Voz da Comunidade tem circulação mensal. Por estarem dentro da área de confronto, os meninos puderam atualizar em primeira mão a operação policial dentro da favela e pautar a grande mídia. Além disto, foi criado ainda um perfil que traduz as informações para o inglês.

Rene Silva, 17, fundador e editor do Voz da Comunidade/Foto do Globo

Longe de tentarem serem profissionais, os meninos buscam mostrar o que está acontecendo com as próprias palavras e a partir do próprio ponto de vista. Alguns tweets como "É GUERRA mesmo! Muitos tiros" ou "São muitos disparos, jornalistas de todas emissoras correm por toda rua procurando abrigo! Se cuide!" são bons exemplos disto.

Na semana passada, um dos co-fundadores doTwitter, Biz Stone, falou sobre a importância do microblog na cobertura de eventos mundiais e sugeriu que o site se tornasse efetivamente uma agência de notícias, o Twitter News Service, aberta e compartilhada com outras agências do mundo. @biz foi praticamente desmentido horas depois por Sean Garret, porta-voz do Twitter, mas sua ideia soa apenas como uma formalização de algo que já acontece.

Biz Stone, co-fundador do Google

A verdade é que esta facilidade de compartilhar informações com uma grande quantidade de pessoas acendeu nas pessoas um lado um pouquinho jornalista. Esse desejo de dar notícias, de falar do que está acontecendo é algo que está crescendo. Mais do que compartilhar links, efetivamente produzir conteúdo relevante sobre fatos e eventos que estão ao alcance e que possam interessar. Não vejo, porém, um movimento de suplantação do jornalismo. Pelo contrário, o jornalismo se utiliza das informações geradas pelos usuários da rede social para enriquecer as coberturas.

Há 4 anos, quando entrei na faculdade, ouvia falar deste fenômeno. Agora que estou saindo, já o vejo formado e se transformando continuamente. Fico imaginando o que viveremos daqui a mais 4 anos, com este fácil acesso a celulares com câmera e internet no mundo.

carrotmob

"Carrotmobs are cooler than boycotts" escreveu a Time para definir a organização. A ideia é simples: ao invés de se unir para boicotar um estabelecimento, situação em que todos poderiam sair perdendo, um grupo de pessoas se une para consumir em peso em um estabelecimento que fez mudanças socialmente responsáveis. Um boicote ao contrário.

O nome vem da expressão "carrot and stick" que se refere à combinação de prêmio e punição para induzir um comportamento. Organizado por um cara chamado Brent Schulkin, o grupo surgiu em março de 2008, em São Francisco. A ideia é genial porque é muito mais fácil fazer com que mais pessoas consumam em uma loja do que fazer com que elas parem de consumir. Além disto, as pessoas estão, de uma maneira geral, mais dispostas a participarem de um Carrotmob do que de um boicote.


Aqui no Brasil, o único grupo é em Campinas. Seu organizador, o engenheiro Edson Pontes, diz que nada foi feito por enquanto porque estão pensando em um formato adequado para o Brasil. "O brasileiro geralmente é muito entusiasmado com novas ideias, e apoia rapidamente, sem pensar muito a respeito. Mas quando você pede envolvimento, a coisa muda de figura". Já existe uma consciência ambiental no Brasil, mas ainda não existe um comprometimento real com a causa.


Edson explica que é muito fácil participar do movimento, porque basta consumir coisas que você já iria consumir, "mas em lugares que estão comprometidos com a causa da sustentabilidade". Assim, os participantes não perdem nada, e a comunidade ganha um estabelecimento comprometido com uma causa social.

O engenheiro descobriu o movimento através da internet e inclusive conversou com o fundador do Carrotmob através dela. Através da rede o projeto tem se espalhado pelo mundo e assim está chegando em cidades em outros continentes. Além do de Campinas, um grupo acabou de se formar em Buenos Aires.

Sem revolução ou politicagem, o grupo é uma ideia simples de como fazer pequenas mudanças que podem beneficiar um bairro, cidade e o planeta. Reflete também a ideia de consumo responsável, na qual nós, mesmo sem fazer parte de nenhuma mobilização, começamos aos poucos a consumir apenas produtos e em estabelecimentos que de alguma forma procurem fazer alguma diferença.

Quem estiver interessado no projeto, pode falar com o Edson através do e-mail edson_r_pontes@yahoo.com.br e dar uma olhadinha no blog.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

dia mundial de combate à aids


Como todos já devem ter percebido pelas redes sociais e portais de notícias, hoje, 1o de dezembro, é o Dia Mundial de Combate à Aids. O dia é destinado à divulgação de temas como prevenção e preconceito aos portadores de HIV desde 1987, e este ano tem a seu lado, como nunca, o apoio das redes sociais para mobilizar e gerar interesse sobre o assunto.

Um dos projetos mais interessantes é o The Digital Life Sacrifice. Artistas como Lady Gaga, Kim Kardashian, Justin Timberlake, entre outros, uniram-se à causa da cantora Alicia Keys e de sua instituição, Keep a Child Alive. Todos os participantes cometeram twittercídio e dizem que só voltarão à rede quando forem arrecadados US$1 milhão. Em seus Twitters, mensagens informando sobre a campanha e ensinando como doar para a causa. No site Buylife, foram postados ainda testamentos em vídeos das celebridades.

É interessante observar o poder de mobilização da internet para causas sociais, especialmente quando tem alguma celebridade como porta-voz. A única preocupação é acompanhar se o excesso de informação online não pode saturar os usuários e fazer com que projetos importantes percam a força.

Aproveitando o assunto, quem aí já conseguiu a badge (RED) no Fourquare?